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31% dos afroempreendedores brasileiros usam limite do cartão de crédito para investir no próprio negócio

Fonte: Redação

Aumentar o número de clientes, garantir renda e ter acesso ao crédito são os principais desafios dos afroempreendedores nos países latino-americanos. É o que aponta um estudo inédito sobre afroempreendedorismo na América Latina lançado pelo CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina), Instituto Feira Preta e Plano CDE. O levantamento aponta que 44% dos afroempreendedores no Brasil tiveram seus pedidos de crédito negados. Entre os pardos, a taxa é de 35%, entre os brancos é de 29%.

Os respondentes apontam que essa dificuldade de acesso a crédito, muitas vezes, é fruto de discriminação, sobretudo no Brasil. De acordo com o estudo, 51% dos entrevistados brasileiros já sofreram algum tipo de discriminação racial em seu negócio ao menos uma vez. O índice é maior na Colômbia (54%) e no Peru (60%).

No Brasil, 40% dos episódios de discriminação ocorrem por parte de clientes, 35% de colegas empreendedores e 35% em processos burocráticos — o que envolve a tomada de crédito.

Como resultado, cresce a busca por fontes alternativas de financiamento. Embora a maioria dos entrevistados esteja bancarizada, 64% utilizam a mesma conta para fins pessoais e empresariais. Entre os brasileiros, 31% recorrem ao aumento do limite de cartões de crédito — o índice é mais do que o dobro dos outros países.

“O uso do limite do cartão decorre da falta de oferta de crédito de qualidade para os pequenos empreendedores. Sem crédito de qualidade, a ‘última alternativa’ é o limite do cartão, o que os coloca um risco muito alto, por ser um crédito de juros maior, e que, pela ‘facilidade’ de acesso pode levar à perda de controle e a uma bola de neve no endividamento”, comenta Adriana Barbosa, diretora-executiva do Instituto Feira Preta.

O estudo, que contou com 2.855 participantes da Argentina, Brasil, Colômbia, Peru e Panamá, está sendo lançado nesta semana em eventos relacionados ao G20, a partir desta quarta-feira (13/11). Para Eddy Bermúdez, coordenador da Agenda de Diversidade Étnico-Racial do CAF, os dados são uma ferramenta importante para entender os desafios e identificar oportunidades para os afroempreendedores latinoamericanos. “A partir desses resultados, os governos podem implementar ações para avançar e apoiar programas e projetos voltados a essas populações”, afirma Bermúdez.

Autoestima e identificação

De acordo com a pesquisa, 76% dos entrevistados brasileiros afirmam confiar muito em sua capacidade de produzir serviços ou produtos de alta qualidade. Contudo, quando o assunto é a venda dessa produção, o número de empreendedores confiantes cai para 44%. Nos outros países, os números são de 66% e 53%, respectivamente. Segundo Barbosa, a confiança é um atributo essencial para reforçar a identidade cultural e desafiar estereótipos e preconceitos que podem afetar a percepção do mercado em relação aos negócios de pessoas afro.

Quanto ao compromisso com as questões raciais, 89% dos entrevistados acreditam que as empresas devem se envolver e consideram seus negócios um empreendimento antirracista. De acordo com o estudo, a definição de antirracista envolve práticas como ser liderada por pessoas afrodescendentes e atender sobretudo clientes são brancos.

A responsabilidade social ainda se reflete nos compromissos com a sustentabilidade. O Brasil é o país com maior número de empreendedores que seguem práticas ESG (sigla para ambiental, social e governança) entre as regiões analisadas, com 80% dos negócios alinhados à agenda. Em segundo lugar está o Peru, com 61%. seguido pela Colômbia, com 59%, Panamá, 58% e Argentina, 41%.

Abertura de negócios

Com quase 60% dos negócios abertos durante a pandemia, a busca pelo aumento da renda se apresentou como a principal razão para empreender, seguida do objetivo de gerar ganhos para suas comunidades.

Entre os países analisados, o Brasil apresentou a maior taxa de formalização (71%). Para a para a diretora executiva da Feira Preta, o resultado é reflexo do ecossistema de apoio existente no país. “Além de soluções gerais para todos os empreendedores, como a facilidade de abertura de um MEI [microempreendedor individual], por exemplo, o Brasil se destaca por ter um ecossistema de apoio aos empreendedores negros mais robusto, que tem um papel em fortalecer os negócios”, afirma.

Mulheres são maioria

A pesquisa ainda apontou um predomínio de mulheres no ecossistema afroempresarial, sendo elas 80% dos entrevistados no estudo. “Isso é algo comum na América Latina. O ecossistema de apoio chega mais nas empreendedoras que nos homens”, diz Barbosa. De acordo com ela, em geral, os negócios comandados por mulheres são menores.

Entre os países analisados, apenas na Argentina a predominância é de empreendedores homens. “O empreendimento afro na América Latina é feito por mulheres. O estudo mostra que na Colômbia, Brasil, Panamá e Peru são as mulheres que lideram os negócios e geram parte importante dos ingressos econômicos que sustentam suas famílias”, diz Breno Barlach, diretor de Pesquisa e Inovação do Plano CDE.

Apesar de 59% desses negócios serem a única ou principal fonte de renda do lar, 48% dos empreendimentos liderados por mulheres têm renda de até um salário-mínimo. “Em geral, elas se tornam empreendedoras mais vezes por não terem ofertas de emprego”, diz Barbosa.

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