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Taxa de inadimplência impacta desde inflação até emprego

Fonte: Carolina Vieira

Enquanto consideramos a inadimplência como o não pagamento de uma dívida com mais de três meses de atraso, a taxa de inadimplência é calculada dividindo-se o total dessas dívidas que não conseguem ser pagas sobre o total de crédito concedido. Para se ter uma ideia, no Brasil, são mais de 72,9 milhões de pessoas nesta situação, de acordo com dados do Serasa de março de 2024.

Além de ser um indicador que mede a saúde financeira das pessoas e das empresas, a taxa de inadimplência pode afetar – e muito – a economia e o consumo. Quem está inadimplente, não consome ou consome menos, tem menos acesso ao crédito e acaba gerando um efeito cascata.

“Há uma contaminação das outras pessoas por essa falta de pagamento. Se o banco deixa de receber, vai considerar isso na hora de fazer um novo empréstimo e, consequentemente, a taxa de juros aumenta”, comenta o professor de economia e finanças da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Alexandre Ripamonti.

A partir daí, os efeitos da inadimplência alta podem atingir desde a inflação, a receita das empresas, o emprego e o crescimento econômico, que pode desacelerar. Nesse sentido, o cenário brasileiro não é dos melhores.

Taxa de inadimplência no Brasil e nas empresas

Mensalmente, o Serasa lança o Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas, levantamento que apresenta o cenário do endividamento no Brasil. O número registrado em março de 2024 representa um novo recorde histórico: foi 3,1% maior na comparação com o mesmo período do ano anterior.

Segundo o próprio relatório, o crescimento reflete a sazonalidade desfavorável típica de início do ano, com pagamento de IPVA e IPTU, reajuste das mensalidades escolares e compra de material, por exemplo.

A quantidade de empresas em situação de inadimplência também aumentou do ano passado para cá, com uma alta de 2,9%. Dados de março de 2024 mostram que 6,7 milhões de empresas estão nesta situação. Entre as micro e pequenas empresas, os setores inadimplentes ficam divididos entre serviços (54,1%), comércio (37,9%) e indústria (7,7%).

São diversas as causas que levam a esse cenário, desde estruturais, como as altas taxas de juros, o desemprego e a informalidade e a perda de renda, a outras que passam pela falta de educação financeira, que refletem em gastos excessivos e falta de planejamento.

Calculando a taxa de inadimplência da empresa

Uma vez que a taxa de inadimplência brasileira é historicamente elevada, entender e se antecipar ao risco de inadimplência passa a ser essencial para a saúde financeira dos negócios. O Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), por exemplo, fornece uma fórmula que ajuda a calcular o risco de inadimplência dos clientes.

Para saber a probabilidade de clientes não honrarem as obrigações financeiras com sua empresa, é preciso dividir o total dos pagamentos pendentes entre 90 a 180 dias pelo total a ser recebido nesse período. Multiplicando-se o resultado por 100, chega-se a uma porcentagem.

De acordo com recomendações do Sistema Financeiro Nacional (SFN), o índice aceitável de inadimplência varia de 5% a 10%.

Quem faz a taxa: o perfil dos inadimplentes

Além de saber calcular o risco de inadimplência, é importante também conhecer quem costumam ser os inadimplentes no Brasil. Alexandre Ripamonti comenta que hoje a tecnologia pode ser uma aliada tanto na análise quanto no combate à inadimplência.

“Modelos tecnológicos e de IA, por exemplo, trabalham com uma grande quantidade de dados e, com isso, conseguem analisar e classificar quem tem maior probabilidade de não pagar as contas”, diz.

Há também diversos perfis de devedores, que exigem diferentes formas de abordagem: os inadimplentes descuidados, que se esquecem de fazer os pagamentos; os ocasionais, que procura manter suas contas em dia, mas que por algum motivo se tornam inadimplentes; e o maus pagadores, que já se habituaram a ficar com o nome sujo.

O Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas do Serasa ainda divulga mensalmente dados sobre inadimplentes, desde regiões onde se encontram quanto para quem devem e perfil etário. Alguns dados de março de 2024 revelam que:

  • No geral, 44,30% da população brasileira é inadimplente. O estado mais inadimplente é o Mato Grosso (53,7%) e o menos, o Piauí (35,85%);
  • Os principais segmentos afetados pela inadimplência são os bancos e empresas de cartão de crédito (29,34%), utilities que envolvem contas básicas, como água, luz e gás (22,99%), as financeiras (17,07%) e o setor de serviços (11,16%);
  • Enquanto inadimplentes se distribuem entre homens e mulheres de maneira praticamente igualitária, as pessoas com mais dívidas se concentram na faixa etária entre 41 a 60 anos (35,1%), seguida pela faixa de 26 a 40 anos (34,1%).

Como a taxa de inadimplência afeta o consumo e a economia

“Como a grande maioria da inadimplência se concentra nas instituições financeiras e concessionárias de serviço público, os setores econômicos mais afetados são esses mesmos. Mas, tirando eles, quem mais sofre com a taxa de inadimplência são as empresas do setor varejista”, alerta Alexandre Ripamonti.

No entanto, os impactos da taxa de inadimplência atingem muito além dos setores diretamente envolvidos com os devedores. O professor exemplifica que a pessoa que se torna inadimplente tem o nome registrado no serviço de proteção ao crédito, então tende a parar de consumir.

“Esse é o primeiro impacto na economia e no consumo. A pessoa deixa de comprar ou só vai conseguir comprar à vista, porque não tem mais crédito”. Esse é um dos efeitos negativos da inadimplência, que pode ser somado, no nível pessoal, à cobrança de juros e multas, na dificuldade de obter outros financiamentos e até no enfrentamento de processos judiciais.

Já no aspecto mais amplo, o risco é o efeito econômico em cadeia: a diminuição do crédito disponível e o maior custo do crédito podem levar a uma consequente queda no consumo, que gera uma menor demanda por bens e serviços.

Por sua vez, isso resulta em uma menor produção, um potencial aumento do desemprego e uma possível espiral de contração econômica. Cenário drástico, iniciado por um “mero boleto não pago”.

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