A Inteligência Artificial Generativa chegou. Seu avanço é irreversível, por mais que se fale em regulação (por ora, apenas uma discussão cheia de calor e ruído, mas com pouco sinal). Poderemos assistir à transformação de uma classe inteira de empregos avançados cognitiva e criativamente que, até agora, não pareciam vulneráveis à IA. Embora esses empregos provavelmente não desapareçam inteiramente, os papéis evoluirão, e irão demandar um conjunto de habilidades com grande valor de mercado.
Preparar e requalificar as diferentes gerações de talentos é mais um dos muitos desafios de empresas e governos. No SXSW, Coursera, Google Cloud e Microsoft se reuniram para discutir o novo momento global de reciclagem profissional e como as instituições podem ajudar os aprendizes a aproveitar a IA e suas aplicações para prosperar no mercado de trabalho.
Marni Baker Stein, Chief Content Officer da Coursera, Elisa Graceffo, General Manager Orldwide Learning da Microsoft, Natalie Van-Kleef, head of Curremt & Future Technologist do Google Cloud, mediados Jane Thier, repórter da Fortune fizeram uma das discussões mais interessantes sobre o assunto no evento.
Educação sem barreiras
Se há um ponto em comum na visão da aplicação das IAGs na educação, é a remoção de barreiras. Tornar os cursos mais acessíveis, mais inclusivos, claros, ao mesmo tempo em que é possível fornecer muitos recursos e conteúdos complementares com alto nível de personalização, expandem as possibilidades da educação.
Essa capacidade de democratização é essencial. Considere que 49% das habilidades estimadas sofrerão disrupção absoluta em até 7 anos. Portanto, para aqueles de nós que estamos cientes disso, existe aí uma diferença tão marcante, um fator crítico tão intenso, que a educação orientada ao uso e à convivência com Inteligências Artificiais terá de se atualizar completamente.
As empresas de tecnologia detém uma pequena vantagem competitiva, por já terem uma cultura familiarizada com “prompts”, instruções e programação de sistemas. Ainda assim, a necessidade de atualização é permanente e incontrolável. O mundo ficará mais acelerado? A ansiedade das pessoas irá aumentar com a sensação de “perder conteúdo” e sentir deslocamento tecnológico? Certamente. Mais do que nunca, as empresas precisam estar dispostas a aprender continuamente.
Padrões de diálogo
As Inteligências Artificiais substituirão professores ou serão suporte e complemento qualificado ao que eles falam em sala de aula? Utilizar IAG para tornar a experiência de aprendizado mais interessante motivadora cria uma expectativa de reduzir a evasão escolar e manter o aluno disposto a continuar sua vida escolar.
No plano profissional, os processos de contratação serão revistos. Os riscos de incrementar preconceitos ou reduzi-los podem depender claramente de como as empresas estabelecem sua cultura e as habilidades que buscam para compor seu time. Nesse sentido, compor programas de qualificação voltados para desenvolver e potencializar as habilidades necessárias para manter uma empresa competitiva ou ampliar seu repertório e propensão à inovação, por exemplo, ou à centralidade do cliente, torna-se excepcionalmente viável. Mais do que isso, analisar dados sobre como os programas de qualificação são bem-sucedidos, em larga escala, vai permitir à cada empresa entender qual sua maturidade para acompanhar novas tendências.
Treinamentos e atualizações poderão ser implementado com velocidade e escala inéditos, com forte redução de custos. A rigor, as Inteligências Artificiais Generativas podem transformar a força de trabalho e torná-lá mais qualificada.
Combatendo o conhecimento tácito
Uma das grandes falhas dos sistemas corporativos reide na manutenção religiosa do conhecimento tácito, regras, práticas e processos não escritos que são seguidos pelos colaboradores, sem reflexão e sem a busca por novas formas de fazer as coisas.
A transformação que a Inteligência Artificial Generativa (IAG) traz para o mercado de trabalho é profunda e multifacetada, confrontando a prevalência do conhecimento tácito. Ela não só desafia nossa compreensão de quais empregos são “seguros” da automação, mas também como valorizamos diferentes habilidades e preparamos as pessoas para o futuro do trabalho. Logo, vale destacar algumas ideias adicionais sobre essa temática:
O primeiro é que o insight e a inteligência para os trabalhadores dos EUA e dos grandes mercados globais não são facilmente acessíveis, mas vão precisar ser no futuro para muitas pessoas, porque quando se trata dessa constante requalificação, reescalonamento, elevação do nível, alguns estudantes terão a sorte de frequentar a faculdade no início de sua jornada, mas uma grande parcela deverá buscar esse conhecimento em outras fontes.
Daí evoluímos para uma segunda ideia expressiva: o uso da experiência da idade, em mais fases da vida, para elevar o espírito crítico e dar balizas e referências consolidadas, registradas, que sirva. De guia para as IAs e, sobretudo, para os trabalhadores mais jovens que cheguem à empresa.
Implicações para a educação pública
Agora, considerem esse contexto em um país de renda média, como o Brasil, no qual existem mais de 150 mil escolas, 85% delas administradas pelo setor público nas 3 esferas. A Inteligência Artificial poderá ajudar a escalar educação de qualidade para tantos e tantos jovens que dependem do ensino público para aumentar suas chances de uma vida com acesso a oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional?
De que forma as possibilidades da IAG serão assimiladas, deturpadas ou potencializadas pelas burocracias estatais para beneficiarem as pessoas e os jovens? Poderemos levar mais mulheres a cursarem matemática e computação? Poderemos ampliar o letramento digital e dar a mais pessoas as condições para explorar essa nova era orientada à IA?
Novas Habilidades e Competências
• Criatividade e Inovação: Embora a IAG possa gerar conteúdo e soluções, a criatividade humana em combinar ideias de maneiras inovadoras e contextualmente relevantes permanecerá uma habilidade valiosa.
• Pensamento Crítico: A capacidade de avaliar criticamente os resultados produzidos por uma AG, discernir viéses e aplicar julgamento ético será mais crucial do que nunca.
• Gestão de IA: Aprender a gerenciar e trabalhar ao lado de sistemas de IA, otimizando sua eficácia e mitigando riscos potenciais, é, desde já, uma nova competência chave.
Mudanças no Mercado de Trabalho
• Evolução de Cargos: Muitos empregos vão mudar para incorporar o uso da IAG, exigindo que os trabalhadores, colaboradores e parceiros se adaptem, aprendam a usar novas ferramentas e encontrem formas de complementar as capacidades da IA com habilidades humanas diversas.
• Demanda por Educação Contínua: A educação não será mais vista como um evento único ou limitado no início da vida, mas como um processo contínuo de desenvolvimento de habilidades ao longo da vida para se manter relevante no mercado de trabalho. O lifelong learning é um imperativo.
O Papel das Instituições
• Reskilling e Upskilling: Instituições de ensino, empresas e governos precisarão colaborar para criar oportunidades de aprendizado acessíveis para requalificação e aprimoramento de habilidades, com foco especial na adaptação às tecnologias emergentes.
• Ensino de Ética e Responsabilidade: À medida que a IA se torna mais integrada ao nosso dia a dia, a educação em ética da IA e responsabilidade digital será fundamental para garantir o uso justo e equitativo da tecnologia.
• Inclusão Digital: Garantir acesso equitativo às oportunidades de aprendizado sobre IA é crucial para prevenir a ampliação da disparidade digital e econômica.
• Novos Modelos de Negócios: A IAG abrirá caminho para novos modelos de negócios e serviços, incentivando a inovação e quase que certamente criando novos segmentos de mercado.
Em resumo, a chegada da Inteligência Artificial Generativa ao mercado de trabalho e à educação infantil e profissional, convida a repensar não apenas como trabalhamos, mas como vivemos, aprendemos e interagimos em uma sociedade cada vez mais digital e automatizada. Se existem possibilidades de criar um futuro mais produtivo, inclusivo e próspero, há também e, sobretudo, o imenso desafio de não perdermos o bom senso e a nossa responsabilidade em não deixar ninguém para trás nessa nova era.
*Esse texto foi produzido com o apoio de Inteligência Artificial, com edição, curadoria e checagem rigorosa pelo autor.