Em seu último livro, “Potencial oculto: como extrair o melhor de você e dos outros” (Editora Sextante), o psicólogo organizacional Adam Grant explora como o brainstorming não aproveita tudo o que as pessoas têm a oferecer. A técnica, que envolve o encontro de diferentes indivíduos para, coletivamente, terem ideias e buscarem soluções para desafios e obstáculos, geralmente é prejudicada devido a vieses e preocupações individuais. Da forma como as sessões são realizadas hoje, uma pessoa pode ter medo de dar uma ideia pouco útil, ou então querer agradar um superior.
Para extrair o máximo da geração de ideias, Grant sugere um processo chamado brainwriting. A grande diferença está nos passos iniciais: em vez de gerar ideias coletivamente, cada integrante é responsável por pensar em soluções individualmente. Em seguida, as sugestões são reunidas e compartilhadas com o grupo de forma anônima, preservando as pessoas de julgamentos e vieses. Cada membro avalia as ideias individualmente, e somente depois o time se reúne para selecionar e refinar as propostas mais promissoras.
Em seu podcast Re:Thinking, no qual conversa com diferentes criadores e especialistas, Adam Grant fez um processo semelhante com o artista e empreendedor will.i.am. Como profissional criativo, o cantor, compositor e produtor explora a Inteligência Artificial (IA) em seus diferentes trabalhos – desde coletar referências e ideias até coapresentar um programa de rádio com uma persona baseada em IA. No episódio, os dois conversam sobre até onde a tecnologia pode ser utilizada de forma criativa e quais são os ganhos para profissionais explorarem o máximo de seu potencial.
“Minha interpretação das evidências sobre IA no momento é que ela parece estar fazendo três coisas para a pessoa média”, afirma Adam Grant no podcast. “Primeiro: ela aumenta as habilidades. Se você é um escritor lutando, se você é um programador que está empacado, ela pode ajudá-lo a alcançar seus pares. Dois: economia de tempo. Você pode delegar tarefas ou automatizar tarefas que costumava ter que fazer sozinho, como redigir e-mails. E, então, três: a maior surpresa para mim é a ampliação de perspectivas”.
O futuro da criatividade
Segundo Adam Grant, uma série de experimentos são realizados frequentemente para avaliar e comparar a performance da Inteligência Artificial na solução e propostas de diferentes problemas e oportunidades. Ele cita um caso de uma espécie de competição a la Shark Tank, na qual diferentes profissionais são colocados diante de jurados para avaliar propostas de empreendimentos, competindo com IAs. Para sua surpresa, a tecnologia gerou mais ideias, que foram avaliadas como mais inovadoras.
No entanto, will.i.am não concorda com a ideia de que a Inteligência Artificial é criativa. “Quem eram aquelas pessoas que estavam avaliando e o que estavam avaliando, de que perspectiva estavam avaliando?”, questiona o artista. “Apenas porque são pessoas de capital de risco e especialistas em empreendedorismo, não significa que estejam realmente procurando algo criativo. A verdadeira criatividade e expressão, muitas vezes, não se trata de dinheiro. As coisas mais criativas que admiramos não foram feitas para ganhar dinheiro”.
Os dois ainda discutem sobre as diferentes perspectivas sobre se a IA é capaz de imaginar ou se a tecnologia apenas regurgita diferentes combinações que foram imaginadas por humanos em diferentes momentos da história. A conclusão é que, por mais que parte da imaginação humana seja exatamente isso – combinar diferentes ideias para gerar algo novo –, não é apenas esse movimento. will.i.am dá o exemplo de um poema: por mais que seja uma combinação ou jogo de palavras, há algo conceitual por trás de uma ideia poética. Por mais que a IA é capaz de combinar palavras, o empreendedor defende que, hoje, ela não é capaz de fazer isso de maneira inédita, gerando ideias e imagens nunca antes exploradas.
“É quando você está pegando diferentes pensamentos e parâmetros de pensamento e aplicando-os em áreas que nunca foram configuradas e combinadas”, afirma. “Talvez em 2034, teremos agentes de IA bastante criativos. Atualmente, esse não é o caso”.
Repensando IA
Uma das grandes contribuições de Adam Grant para a psicologia organizacional é a ideia do repensamento. O conceito se refere à habilidade de desafiar e questionar as suposições convencionais e, assim, criar abertura para novas ideias e perspectivas. Segundo o autor, sem essa habilidade, a inovação e o progresso são impossibilitados – ainda mais em um cenário de constantes transformações e instabilidade. É essa capacidade que garante a exploração de novas possibilidades e soluções criativas para os desafios contemporâneos e futuros.
Em outro exemplo, Grant apresenta uma pesquisa liderada pelos pesquisadores Christian Terwiesch e Karl Ulrich que avaliou ideias de planos de negócios geradas por IA. A conclusão do estudo foi que o ChatGPT-4 gerou diversas ideias em grande volume, sendo boa parte delas soluções mais econômicas de serem implementadas, e que foram bem avaliadas. Mas além disso, por mais que a ferramenta tenha gerado mais ideias boas, também gerou muitas ideias ruins.
“Aqui eu acho que precisamos de humanos”, argumenta Grant no podcast. “O ChatGPT não poderia fazer a triagem e filtragem para descobrir quais ideias eram boas e quais eram ruins. Não apenas as ferramentas que temos agora estão lutando para alcançar a criatividade revolucionária, elas também nem mesmo sabem quando têm uma ideia original. Então, se elas tiverem uma descoberta, cabe a nós avaliar se é, de fato, uma descoberta”.
Conheça a FYIona
Em janeiro de 2024, will.i.am lançou um novo programa de rádio chamado will.i.am Presents the FYI Show, transmitido pela SiriusXM. Trata-se do primeiro programa coapresentador por uma Inteligência Artificial – FYIona – transmitido pela emissora, que tem como tema pautas de música, cultura pop e tecnologia. Além da parceria com FYIona na apresentação do programa, que funciona como uma interlocutora sobre os diferentes assuntos que cercam os interesses do fundador, a grande vantagem da tecnologia está justamente em fazer atividades que ele próprio não consegue.
“O que eu gosto sobre a FYIona como coapresentadora do meu programa é que eu posso falar sobre coisas históricas, coisas imaginativas, posso desafiá-las, posso questioná-las”, afirmou will.i.am na conversa com Adam Grant. “E, depois do programa, os ouvintes poderiam acessar o FYI e interagir com a FYIona quando eu, eles não podem falar comigo após o programa”.
Dessa forma, uma vantagem da Inteligência Artificial – como é possível identificar em cases de atendimento ao consumidor nas mais diferentes empresas no Brasil e no mundo – é a disponibilidade da tecnologia 24/7 para milhões de pessoas, tudo ao mesmo tempo. “Eu adoro a ideia de tempo e atenção infinitos”, afirma Adam Grant. “Não apenas isso lhe dá um espaço para desabafar ou para fazer um brainstorming em horas estranhas, mas também acho que pode fazer com que as pessoas apreciem ainda mais a conexão humana quando a têm”.
IA+CX
O uso da Inteligência Artificial generativa para impulsionar e transformar experiências e negócios será pauta do IA+CX. O evento será realizado no dia 23 de abril de 2024, na Contemporâneo 8076, localizada na Avenida Morumbi, 8076, no bairro do Morumbi, em São Paulo (SP). Confira a programação completa clicando aqui para acessar o site do evento.